sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Resbosta II

No final do ano 2000 eu me encontrava morando na Bahia, em Salvador. Um grande amigo, que residia no Rio de Janeiro, passava por um momento delicado na sua vida. Desempregado, em busca de várias alternativas para suprir o sustento de sua família, resolveu comercializar peças íntimas femininas (entre outras palavras: sacoleiro). Não se sabe ao certo se conseguiu gerar fundos suficientes para o próprio sustento, porém, acabou gerando, dentre outras resenhas, o conto "O Calcinhista", que foi a base para o segundo exemplar do A Resbosta.





Salvador/BA Dezembro de 2000

“O Calcinhista”
(Baseado no conto “O Flautista de Hamelin”)

Era uma vez um pequeno vilarejo no sudeste de uma grande capital Brasileira, que era chamada de Falamalândia. Falamalândia, com seus festeiros e fofoqueiros cidadãos, vivia na mais santa paz (sem considerar alguns pormenores que aconteciam entre as damas da sua sociedade).
Este modesto vilarejo era regido por uma organização chamada “A Cúpula Que Rege o Mundo” (a razão do título não convém esclarecer aos membros da plebe), constituída por Sir Bocauski, o presidente, Sir Torresovéviski, o vice-presidente e por último, porém, não menos importante, Sir Coutinhões, ministro das finanças, relações exteriores e, principalmente, interiores e eventos.
Num determinado momento na história do vilarejo, ocorreu um fato curioso que irei agora narrar.
Certo dia foi levado ao conhecimento de Sir Bocauski, por Sir Coutinhões, que os cidadãos do local estavam fazendo muitas reclamações sobre um fato que chamavam de “invasão das pererecas”. Havia pererecas por toda parte do pequeno vilarejo, e todos estavam à beira da loucura. Não mais trabalhavam e corriam pelas ruas desesperados. De imediato Sir Bocauski decretou estado de calamidade pública e se desdobrou na tentativa de solucionar o problema. Sir Torresovéviski, tomando conhecimento do ocorrido, foi encontrar o presidente.
- Sir Bocauski, tenho a solução para acabar com esta praga!
- Sir Torresovéviski, pela paz de nosso alegre vilarejo, dê-me a solução para que possamos, novamente, dar vida tranquila ao povo de Falamalândia.
- Sir, conheço um homem que certa vez me deu um “beiço” num CD do Rush, que consegue exterminar qualquer coisa. Para conhecimento de Vossa Excelência, este homem, acabou com um Fiat Uno Vermelho sem nenhum esforço.
- Como ele se chama?
- O nome dele é... Urucarson, o calcinhista.
- Mande chamá-lo. Encontre-o onde quer que esteja e traga-o aqui.
- Imediatamente, Sir. Com sua licença.

Não foi muito difícil encontrá-lo. Curiosamente o Sr. Urucarson, o calcinhista, se encontrava em uma praia bem próxima ao vilarejo. Ao receber a proposta para exterminar as pererecas do vilarejo, Sr. Urucarson, o calcinhista, curiosamente parecia já saber muito bem sobre o que se passava no vilarejo. De pronto aceitou o trabalho.
O Sr. Urucarson, o calcinhista, saiu distribuindo calcinhas-de-algodão-extra-macio-com-desenho-de-um-spray-repelente-de-pererecas-na-frente-tamanho-único para todas as mulheres do vilarejo e orientou-as da seguinte forma: quando uma perereca vier em sua direção, levantassem suas saias, assim, as pererecas desapareceriam. Dito e feito. Duas horas após ter distribuído as calcinhas, não havia mais nenhuma perereca no vilarejo.
Na manhã seguinte ele foi receber o pagamento prometido por Sir Bocauski para executar o serviço. Ao entrar na sala de Sir Bocauski, toda a Cúpula estava reunida e junto à eles havia um rapaz baixinho, moreninho, com espírito de cão bravo, segurando um gravadorzinho. No mesmo instante Sr. Urucarson, o calcinhista, reconheceu o rapaz. Era o motorista do táxi no qual ele saiu do vilarejo no dia anterior. Sir Coutinhões foi quem falou:
- Sr. Urucarson, o calcinhista, ouça o que o Sr. Pitirovinski nos trouxe hoje pela manhã.
E colocou o gravador a tocar depois de muito custo e algumas porradas. Dizia a gravação:
- É, “motô”! Agora vou recolher minhas pererequinhas, pois tenho que me preparar para fazer outro lugarejo de trouxa. Amanhã de manhã vou pegar o meu “dim-dim”. Uhú! Meu “dim-dim”! .
Após executada a gravação, os membros da Cúpula baniram do vilarejo o fraudulento sujeito que, amarrado no lombo de um jerico, partiu aos berros.
- Vocês vão se arrepender!!! Vocês vão se arrepender!!!
Na manhã seguinte, ao acordarem, todos os homens do vilarejo notaram que suas mulheres, filhas, mães e irmãs haviam sumido...
Estranhas placas haviam sido espalhadas por todo o vilarejo, durante a noite, com a seguinte descrição: Calcinhas de algodão extra macio grátis!!! Vá até a Fazenda pegar a sua também!!!
E por debaixo das portas das casas dos membros da Cúpula foram deixadas cartas escritas o seguinte: Todas as mulheres do vilarejo se encontram sob meu poder. Para tê-las de volta, terão que pagar cinco vezes o que me devem no prazo de 24 horas, senão, nunca mais as terão de volta.
Perante delicada circunstância, Sir Bocauski convocou todo o povo de Falamalândia, ou seja, todos os homens, para uma grande reunião em praça pública.
No momento em que todos os homens chegaram à praça o presidente da Cúpula começou a falar:
- Povo de Falamalândia, é com enorme amargura no coração que vos digo que nossas mulheres encontram-se aprisionadas sob um pedido de resgate de valor exorbitante. Mas, não há razão para desespero, pois tenho duas notícias para vos dar. Uma boa e outra maravilhosa. A primeira: nós temos esta quantia para trazermos nossas mulheres de volta. A segunda: invés de pagarmos o resgate, a Cúpula resolveu bancar o carnaval de todo mundo em Salvador, pois, tem um parceirão nosso morando lá, solteiro, num apartamento na Pituba, e dizem que aquilo lá é “coisadidoido”!!!
E assim, todos viveram felizes para sempre...
Quê? Que mané mulheres?
E você acha que alguém voltou de Salvador, seu trouxa?!?
Só me faltava essa...

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